domingo, 28 de julho de 2013

[Não posso adiar o amor para outro século]

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a  minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa

A Palavra e o Lugar, Publicações Dom Quixote, 1977

ODE Á BELEZA DA PALABRA


SÓ a palabra vale. Unicamente
ela ilumina o mundo,
dalle claridade ás cousas
e fai nídia e intelixíbel
a confusa escuridade do noso
ser, mortal e indeciso.
Tudo muda. Somente a palabra
permanece, na súa infinitude,
se leva dentro de si a chama
que um día queimou, con
lúcida paixón e con verdade,
a desolada flor da nosa vida.

Manuel María

in As lúcidas lúas de Outono