quarta-feira, 28 de abril de 2010

Laranja

dá-me uma rimã
para a lua
como laranja
doce, verso antigo
uma rima que ate
e me desate da noite

sábado, 24 de abril de 2010

O lento caminhar

e agora uma rima para abril
que não seja cravo arma
foice: lírio talvez
teus olhos, a secreta
alegria de resistir
contra os nossos medos
e que rime com futuro
e perdoe aos amigos que traíram.
e agora uma rima para abril
teus olhos
uma gabela de lírios o lento
caminhar do gado
o tépido caminhar
para a morte

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cavalo

Agora uma rima
para tangerina
pode ser a crina
do cavalo de vento
da menina: o que voa
nos sonhos
e dorme nos cachos
da glicínia
uma rima breve rima
enquanto tenho tempo
de ver a minha menina.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

tangerinas

Estou debaixo de uma tangerineira
cheia de pássaros maduros
nada procuro. só a fugidia
sensação de anotar o amadurecimento das aves,
a silenciosa ternura da tangerineira que conhece a malvadez dos ventos.
nada procuro. é frágil a pele da tangerineira: os gatos afiam
aí as unhas. e ela, cheia de alegres pássaros maduros, nada diz.
é esse silêncio vegetal que interroga, que te perturba. e tu nada sabes
nada sabes do enredo íntimo da tangerineira: da espantosa
alquimia de fazer do húmus pássaros maduros - regressam pela tarde
exaustos de doçura.
que nome dar aos humildes pássaros que a tangerineira transmutou a identidade.
tu nunca viste uma rã colorida.

sábado, 17 de abril de 2010

Virá a Morte e terá os teus olhos

Tu não sabes as colinas
onde se derramou o sangue.
Todos nós fugimos
todos nós largámos
a arma e o nome. Uma mulher
olhava para nós quando fugíamos.
De nós só um
parou de punho cerrado,
olhou para o céu vazio,
inclinou a cabeça e morreu
contra o muro, em silêncio.
Agora é um trapo de sangue
e um nome. Uma mulher
espera-nos nas colinas.

Cesare Pavese

*
A memória da luta parece infinita. Tecida na mais íntima matéria perecível, tão frágil, afinal, é de verdade. Sempre que releio Pavese, paro nas colinas: vício absurdo, eu sei.

sábado, 10 de abril de 2010

Abril

O alarido das rãs apaixonadas
incendiando a tarde