em abril
as flores nascem
no peito das mulheres
as viagens são vermelhas
os desejos são vermelhos
e depois
pelos espelhos
(quebrados) fogem rostos
estranhos de espanto
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Canta o lírio
canta o gaio
deve ser o maio
canta o lírio
deve ser um sonho
canta o cuco
é primavera
canta a pedra
deve ser o sono
Canta o melro
deve ser verão
canta o garrafão
deve ser a fome
canta a perdiz
deve ser o fim do dia
canta o chafariz
deve ser paixão
canta a coruja
deve ser a noite
canta a abóbora-menina
deve ser poesia
canta andorinha
deve ser saudade
deve ser o maio
canta o lírio
deve ser um sonho
canta o cuco
é primavera
canta a pedra
deve ser o sono
Canta o melro
deve ser verão
canta o garrafão
deve ser a fome
canta a perdiz
deve ser o fim do dia
canta o chafariz
deve ser paixão
canta a coruja
deve ser a noite
canta a abóbora-menina
deve ser poesia
canta andorinha
deve ser saudade
Etiquetas:
Devocionário para as crianças
sábado, 22 de agosto de 2009
Pauis de tenra erva
aboim
agora às trutas no ribeirinho
até várzea cova: havia um cão
grande e manso só com três patas, junto à igreja.
as trutas nos luminosos anos setenta
no ribeirinho de aboim eram pequena
mas em abundância, só pelo julho
nos açudes silenciosos o saltão a patinar na água
iludia trutas de palmo, às vezes maiores.
dizem-me (desagradável voltar aos lugares
onde se foi feliz) dizem-me que agora é um imenso chavascal
os açudes se alagaram, sôfrego silvedo cobriu o sussurro da água
campos, caminhos em redor.
o padre de várzea cova fazia exorcismos
e a imagem incompleta do cão grande
parecia (os verdes anos têm esses imaginosos pensamentos)
indiciar o árduo ofício do sacerdote de acudir
aos fiéis atormentados. nesse tempo, os campos junto ao ribeirinho
estavam cultivados, pauis de tenra erva que o gado
pastava pela tardinha para fugir à mosca. E havia as filhas
do matalobos que nos espiavam pelo postigo do moinho
naquele lugar ermo, cercado por carvalhais.
em redor de Aboim nos montes que nunca foram maninhos
há enormes ventoinhas e os felizes emigrantes. agora o agosto
o agosto que dá uso a caminhos velhos.
agora às trutas no ribeirinho
até várzea cova: havia um cão
grande e manso só com três patas, junto à igreja.
as trutas nos luminosos anos setenta
no ribeirinho de aboim eram pequena
mas em abundância, só pelo julho
nos açudes silenciosos o saltão a patinar na água
iludia trutas de palmo, às vezes maiores.
dizem-me (desagradável voltar aos lugares
onde se foi feliz) dizem-me que agora é um imenso chavascal
os açudes se alagaram, sôfrego silvedo cobriu o sussurro da água
campos, caminhos em redor.
o padre de várzea cova fazia exorcismos
e a imagem incompleta do cão grande
parecia (os verdes anos têm esses imaginosos pensamentos)
indiciar o árduo ofício do sacerdote de acudir
aos fiéis atormentados. nesse tempo, os campos junto ao ribeirinho
estavam cultivados, pauis de tenra erva que o gado
pastava pela tardinha para fugir à mosca. E havia as filhas
do matalobos que nos espiavam pelo postigo do moinho
naquele lugar ermo, cercado por carvalhais.
em redor de Aboim nos montes que nunca foram maninhos
há enormes ventoinhas e os felizes emigrantes. agora o agosto
o agosto que dá uso a caminhos velhos.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Rimas infantis
achei uma rima
para o meu gato
leve como uma crina
não é bicho do mato
nem novelo de lã
nem dorme no guarda-fato
e acorda pela manhã
achei uma rima
para o meu gato
redonda tangerina
menina sem sapato
se agora ta contar
que será do meu gato
é bem capaz de amuar
pela rima não ser rato.
para o meu gato
leve como uma crina
não é bicho do mato
nem novelo de lã
nem dorme no guarda-fato
e acorda pela manhã
achei uma rima
para o meu gato
redonda tangerina
menina sem sapato
se agora ta contar
que será do meu gato
é bem capaz de amuar
pela rima não ser rato.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Água doce
agora o agosto, frágil libelinha
amores de água doce
como as palavras cabisbaixas entrando no milheiral
o esquecimento do voo dos pombos bravos
outrora o agosto: um cacho de uvas roubado
a mãe no silêncio lavado da cozinha
repouso breve no declínio da tarde. a mãe
só a mãe nos aguardava com a tisana
de ternura fresca
amores de água doce
como as palavras cabisbaixas entrando no milheiral
o esquecimento do voo dos pombos bravos
outrora o agosto: um cacho de uvas roubado
a mãe no silêncio lavado da cozinha
repouso breve no declínio da tarde. a mãe
só a mãe nos aguardava com a tisana
de ternura fresca
Etiquetas:
agora o verão,
Agosto,
mãe
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Da alegria sazonal
o verão antigo
não cheirava a sargaço
havia libelinhas maçãs bravo de esmolfe ainda verdes
água limpa, a furiosa paixão pelo tangível
versos do ramos rosa: estou vivo e escrevo sol
muita cerveja na solidão nocturna
agora o verão. vejo os patos bravos à tardinha
para que exílio os leva seu geométrico voo?
e o rumor do mar lá ao fundo
dizia: mãe, eu vou com as aves
porque as palavras do Eugénio sempre deixam marca
como nódoa de pêssego na camisa de domingo
que desesperava toda a mulher
e íamos à festa a aboim
passávamos a cruz de mós, o silêncio
dos carvalhais emboscados na noite
íamos a aboim pelo alegria de caminhar
no labirinto da noite, os carros dos emigrantes
que nos atiravam para as bermas e o pó
a emaranhar-se no cabelo. no verão antigo
fumávamos cigarros, só cigarros
cinco quilómetros sempre a subir
pela estrada de terra batida e eis o esplendor de aboim
no cume da serra canhestro conjunto musical a animar o povo
da alegria sazonal
como por essas bandas nada se abichava
bebia-se vinho e cerveja na infusa três colheres
de açúcar amarelo. o silêncio já orvalhado dos carvalhais
e os automóveis incendiando a escuridão. no verão
antigo procurávamos a felicidade nos sítios mais improváveis.
não cheirava a sargaço
havia libelinhas maçãs bravo de esmolfe ainda verdes
água limpa, a furiosa paixão pelo tangível
versos do ramos rosa: estou vivo e escrevo sol
muita cerveja na solidão nocturna
agora o verão. vejo os patos bravos à tardinha
para que exílio os leva seu geométrico voo?
e o rumor do mar lá ao fundo
dizia: mãe, eu vou com as aves
porque as palavras do Eugénio sempre deixam marca
como nódoa de pêssego na camisa de domingo
que desesperava toda a mulher
e íamos à festa a aboim
passávamos a cruz de mós, o silêncio
dos carvalhais emboscados na noite
íamos a aboim pelo alegria de caminhar
no labirinto da noite, os carros dos emigrantes
que nos atiravam para as bermas e o pó
a emaranhar-se no cabelo. no verão antigo
fumávamos cigarros, só cigarros
cinco quilómetros sempre a subir
pela estrada de terra batida e eis o esplendor de aboim
no cume da serra canhestro conjunto musical a animar o povo
da alegria sazonal
como por essas bandas nada se abichava
bebia-se vinho e cerveja na infusa três colheres
de açúcar amarelo. o silêncio já orvalhado dos carvalhais
e os automóveis incendiando a escuridão. no verão
antigo procurávamos a felicidade nos sítios mais improváveis.
Etiquetas:
abichar,
aboim,
ramos rosa
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Um de agosto
Agora o verão
e já o inverno chega
um de agosto início do inverno
segundo os antigos: e bebiam aguardente
na manhã desse dia para afastar frios imaginários
agora o verão
na sombra das palavras
é agosto, gesto remoto: o fogo
da aguardente em memória
da sabedoria dos velhos.
tu não sabes
agora é verão no inverno
e já o inverno chega
um de agosto início do inverno
segundo os antigos: e bebiam aguardente
na manhã desse dia para afastar frios imaginários
agora o verão
na sombra das palavras
é agosto, gesto remoto: o fogo
da aguardente em memória
da sabedoria dos velhos.
tu não sabes
agora é verão no inverno
Subscrever:
Mensagens (Atom)