sábado, 29 de setembro de 2007

Alvião

A nossa casa ficava quase a meio da encosta. Na Primavera, pela tardinha, descíamos ao rio por um trilho de pedra solta, entre estevas e vinhedos. Um dos cântaros iludia a sede da laranjeira; com a outra água a minha mãe fazia a sopa, lavava a louça. A que sobejava era para nosso asseio. Ao cair da noite, eu e a minha mãe sentávamo-nos na soleira a cativar o aroma doce e florido da laranjeira. Eu sei, duvidará da minha história. Todos nós tivemos infância: a minha adormeceu na casa térrea a olhar um rio. O avô, pouco interessa o nome, o meu avô plantou a laranjeira em frente da casa, na terra de xisto, como se deveras quisesse afrontar a natureza. Venceu. Vezes sem conta, no entanto, teve de rumar ao rio, quando o Verão sufoca o murmúrio das fontes. Eu e a minha mãe recebemos e tratámos, zelosas, a herança. Desconheço se a casa resiste, terá telhado, a porta. Qualquer dia, meto-me no comboio e afugento a dúvida. Uma coisa é certa: não a vendi. Se o tempo a diluiu na paisagem, força não teve, nunca terá, para engolir o chão. Um pedaço acanhado de terra, afinal tudo o que me resta. Por que não me olha? O meu corpo... Sim, meto-me no comboio e regresso à memória da casa. Nada temo, ninguém me conhece: a aldeia ficava distante como o rio, ou mais longe. E as pessoas da minha criação, como eu, fugiram da penúria; aos velhos a terra, no devagar secreto, já terá furado e bebido os olhos. Talvez a laranjeira desobedeça à morte, muitos galhos secos, por certo, e uma pequena mancha de verdura – sem viço, contudo, para brotar as mais doces laranjas da minha vida.
Depois de abrir a cova, a golpes de alvião, sabe o que é um alvião?, na terra de pedra desirmanada, o meu avô chamou a filha. Em tom de prece, disse: “S. Frutuoso bote o fruto”. E S. Frutuoso, pelo menos enquanto vivi a olhar o rio, foi benigno, como parecem ser todos os santos da devoção de homens laboriosos. Meto-me no comboio... Por que não olha para mim? Se quiser, de verdade, conhecer a história observe o meu corpo. Muitos homens o percorreram. Homens a tresandarem a álcool, suor; homens perfumados. Bruscos, homens silenciosos como choupos, um ou outro tocado pela delicadeza. Por todos reparti amargura, a todos prestei felicidade. Não. Peço-lhe, pare. Felicidade é palavra tresmalhada na minha história!
Enquanto recua a fita, falo da tristeza dos choupos. Enfim, tontice... Se me via triste, o avô dizia, Pareces um choupo. O meu avô amava o silêncio das árvores, será essa uma das grandezas dos homens justos... Expulsou a felicidade?... Quando o meu avô comparava a minha tristeza ao silêncio dos choupos, eu ficava furiosa, lampejavam os meus olhos como as pedras que o alvião esmiola a rasgar a terra. Sabe o que é um alvião? Para invadir a minha vida, precisa de saber o que é um alvião. Alvião, alvião... conhece, diga-me, conhece outra palavra leve e tão veloz? Eleva-se no ar como libelinha e logo se precipita como cutelo. Você não acredita mesmo. A mulher da minha rês vedado está o ofício de sopesar a língua. Todo o meu vocabulário, imagina, caberá no reverso de um bilhete de comboio. Engana-se. De herança, o meu avô deixou-nos ainda um livro: nunca o abri, mas, se assim o desejar, conto-lhe o enredo. Nas tardes de Primavera, degustava em voz alta, sentado na soleira, essa antiga história de paixão. Quem ouve palavras envoltas no aroma de laranjeira florida jamais as esquece. Lhaneza, sabe o significado de lhaneza? A palavra irrompe nas primeiras páginas do livro; quando a escutei, pedi ao meu avô e ele suspendeu a leitura. Qual o significado da palavra que nos obriga por momentos a colar a ponta da língua ao céu-da-boca? O meu avô... Acabou a fita? Não me esqueço do que ia dizer...






Posso?
O meu avô não soube explicar, e pareceu-me ter ficado ofendido com ele próprio. Nunca mais lhe interrompi a viagem com as palavras...
Por que grava a minha história?
Numa tarde de Verão, desci sozinha pelo trilho de pedra solta, que cruzava estevas ressequidas e a verdura dos vinhedos. A laranjeira clamava por água. Um homem, de súbito um homem, na vinha, mete a mão ao bolso e mostra moedas. Deixei-o com o brilho na concha da mão, segui caminho. No rio, demorei mais do que o costume, talvez a espera o afugentasse. Devagar subi a encosta, cântaro de barro na cabeça, você não é do tempo dos cântaros de barro, e o desassossego, conhece palavra mais sinuosa, desvanecia à medida que a vinha fugia em cardume para o rio. Já avisto as estevas, mirradas, refúgio de perdizes e víboras... mãos de silêncio e lume acanham-me os seios. Ao contrário das víboras, ataca-me por detrás, à falsa fé como dizia o meu avô, e eu tenho as minhas mãos a aparar o cântaro. O homem grudado a mim, vou descendo a vasilha; sem me descativar, permite que me curve e poise o cântaro na terra. A mão esquerda solta o seio, este, este!... por que não me olha? e tapa-me a boca, mas alguns gritos haviam já golpeado a brandura da tarde.
Valerá a pena, a dor, contar o resto?
O alvião, enfim, fica a saber o que é um alvião. Vi-o no ar, gume de ferrugem (depois da morte do avô ninguém mais lhe dera uso), e logo a descida fatal.
Um dia meto-me no comboio. Compro uma tesoura de poda, corto os galhos mortos da laranjeira. E desço ao rio, desta vez sem o cântaro, sem o olhar predador a espiar-me da vinha... O fotógrafo? Pois, amanhã, já me tinha dito. Avise-o: quero a fotografia assim. Não me acha uma mulher formosa! Olhe as minhas pernas, a mão no sexo... O corpo. A minha história. Desligue o gravador, desligue: deite-se a meu lado, tímido amante. Eu voltarei a ser menina, cântaro à cabeça, pelos vinhedos a caminho do rio. Poise as mãos de silêncio e lume nos meus seios. Não tenha medo, não tenha medo de mim – alvião é palavra perdida.

(in Putas, antologia do novo conto português e brasileiro; Quasi, 2ª edição)

Gato

(eis o bicho que rouba os poemas ao cão…)


O meu gato
esconde nos olhos
um misterioso
caçador de silêncios.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Bestiário para as crianças



Tubarão



Por ser muito perigoso
os marinheiros antigos
conjugavam o nome deste peixe
sempre no futuro.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Notícia breve


vai construir-se uma

fábrica para lavagem

(a seco), desintoxica-

cão e apuro das pala-

vras ainda possíveis.

A armadilha da palavra

Breve palavra: brévia. Em teu redor, a sebe irrompe espessa, intonsa. A noite, mas a noite, agora é noite, é noite de inverno. O canto triste dos tordos fica preso na armadilha da palavra, como se a escrita fosse arte de indagar a morte.


(in Brévia, hidra editores, Árvore, 2005)

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Bestiário para as crianças



Gralha


Ave que cultiva a arte
poética: passa a vida
a recriar palavras
a reinventar a língua.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Folhas de plátano

Uma simples imagem abala o lago profundo, a memória. De tão profundo, a água tingiu a limpidez. É sombra, sombra impenetrável. Olhas, olhas e nada vês. Só a tua memória inçada de gestos, palavras deslembradas, folhas de plátano na emigração do Outono, rostos embargados da claridade dos olhos. Uma simples imagem, de repente, te acende a noite. E da matéria de aluvião, assentada nas profundezas, desprendem-se algumas palavras,
Feliz ainda quem
pode encontrar a porta
chorar diante dela.
Os versos de Guillevic sobem, sobem devagar por dento de ti.

Ervas de cheiro

As flores das ervilhas de cheiro são de várias cores, observa o homem. Corta uma flor branca, outra vermelha, outra roxa: cheira-as uma a uma; depois junta-as. Diz, o homem diz, “cada cheiro tem a sua cor, as cores misturam-se, os cheiros: não”. Por Setembro, quando as pequeninas sementes parecem encetar a fuga da ressequida camisa de forças, virá o noitibó debicar a memória aromática. Ave curiosa, este noitibó, diz o homem: nem de luz carece para distinguir as cores.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

caça


Já abateram todas as aves

de espanto

Matéria de aluvião

No silêncio do olhar dos gatos há camadas de memórias: sedimentam-se em aluvião. Matéria de aluvião. Mas que guardam, que defendem , que preservam, todos estes gatos em redor do castelo de Castro Marim? E o olhar dos novos felinos, descobre o homem, herda o mesmo silêncio: adensa a espessura de vida para vida. Matéria de aluvião, a memória. Que desvario cometeram os gatos, quem os condena a arquivar para sempre o silêncio?

domingo, 23 de setembro de 2007

Fala do homem do saco de cabedal

Vendi o coração ao diabo por um copo de vinho
e uma mão cheia de chamas. No vazio do peito
coloquei um seixo afeiçoado.
Tenho no saco de cabedal alguns livros
de lirismo ateu e segredos obscuros
para a emboscada final.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Reler Gorki, emocionado

«Quando eu era miúdo, com os meus 10 anos, quis apanhar o sol com um copo. Peguei no copo, aproximei-me sorrateiramente, e zás, com o copo na parede! Cortei a mão e bateram-me por isso. Quando me bateram, saí para o pátio e vi o sol reflectido numa poça e vá de espezinhá-lo. Fiquei todo enlameado, e voltaram a bater-me... Que fazer? Comecei a gritar ao Sol: “Não me dói, diabo ruivo, não me dói!” E deitava-lhe a língua de fora. Isso consolava-me.»

Fala de Andrei, in A Mãe

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Os pequenos peixes


O homem entra resoluto na noite, gesto em descostume, espanto juvenil de ver estrelas. Contar as estrelas, promessa antiga. “Desempenho impossível”, diz. E regressa a casa, impelido pelo conforto securitário. Desencantado. Antes de fechar a porta, um derradeiro olhar pelo céu limpo: “As estrelas são pequenos peixes, fugido cardume, no mar ao contrário”, diz o homem, a justificar o fracasso a si próprio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Maçã, matéria humilde

Quem põe a maçã sobre a mesa
e assim cativa o derradeiro poema?
Por certo, mão maternal: trouxe a maçã
e a maçã: a luz do outono
que sabe a vinho novo, a marmelo maduro.

Quem põe sobre a mesa,
no quarto de hospital, uma maçã: a tua infância
passo estugado da rês no silêncio pastoril
o rumor do fio de água num pátio do sul?

Mão maternal, Eugénio
de subtis afectos: afaga a tua vida toda
conhece bem a matéria humilde da poesia.

As árvores

A preto e branco, as árvores perdem a memória.
Vem o Outono e rouba-lhes o nome, o coração
vegetal. Podes ver, a preto e branco, uma bicicleta,
um rosto, um pássaro colorido – as árvores não.
Carecem de luz as árvores, essa claridade estreme
que só os teus olhos distingue, essa luz que amadurece
os frutos, burila as pedras.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Palavras perdidas

a partir do século dezoito
pensar deus em letra minúscula
deixou de ser considerado heresia

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Pelos teus lábios


No mês de Maio como as cerejas pelos teus lábios. Diz o homem do saco de cabedal à rapariga. E a rapariga abandona o largo. A correr, como se fugisse de rude tempestade. Pouco depois, regressam a rapariga, os irmãos e o pai. Caminham lestos, incitados pelo silêncio,

Foi ele!

voz de fogo, voz de fúria.

Pausa breve.

O cerco, e o homem cai por terra, sangue vivo esponta nos lábios. A rapariga, os irmãos (são três) e o pai assim legam o desconhecido. Partem, leves e libertos.

Muito lentamente, o homem se levanta. Sacode as roupas, sacode a dor por gestos mais suaves ainda. Do bolso direito das calças tira o lenço: devagar, o lenço bebe o sangue dos lábios. Do outro bolso sai um cigarro: fuma-o, sozinho, no largo desabitado. Debruça-se, recolhe o saco de cabedal: avança, movimento dolorido, em direcção do nada. Antes de sair do largo (ou da página?), volta-se para mim (silencioso cronista), avisa-me: O narrador protege a personagem, foste tu o instigador do desacato!

Silencioso sou, silencioso fico.

Parado. O homem persiste parado, enxuga ainda os lábios como se os corrigisse. Aguarda, eu sei, uma palavra minha. Por outras aventuras andámos e nunca ninguém lhe fugiu ao respeito. Merece uma explicação, e eu não a sei desencantar. Que terá dito a rapariga à família de ódios silenciosos? Que fogo ancestral espavoriu como animal silvestre? Dos lábios da personagem apenas saiu uma pobre metáfora – e achava-a, erro meu, erro meu, saborosa como fruta da época.

domingo, 16 de setembro de 2007

Porto, anos 80


e eu vi: na parede ao fundo

as árvores voam e

poisavam na leveza dos pássaros

e eu vi

a cerveja no copo


as árvores voavam muito muito

os pássaros tinham musgo verde

e eu vi

era verde o musgo da aves

do fundo da parede do café


as árvores poisavam exaustas

e eu vi

eu vi o vento molhar o teu cabelo


e eu bebi

a cerveja no copo

as árvores estafadas a voar

no teu cabelo


era verde

e eu bebi

no sonho de bebivermos

na parede ao fundo.

sábado, 15 de setembro de 2007

Jugo

os olhos das vacas
são de redonda tristeza
o homem que as cativa (gesto
remoto) ao jugo
nunca, nunca se deteve
nessa melancolia submissa


nem no aroma florido de maio
a caminho da serra

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Vilarinho da Furna


Queixam-se

os peixes: todas as manhãs

a solidão do cardume é perturbada

pelo chocalhar fóssil da rês


quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Paixões, o rosto

o cavalo da memória detém-se na colina
repasta as paixões o rosto
dos amigos de um cidade perdida
entre o douro e o minho

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Zenão e as aparências


zenão media o silêncio

com a imobilidade dos olhos,

o movimento ininteligível

do ser único, eterno,

a ordem imutável

contra a perpétua mudança,

defendia: enquanto caminhava

ao lado dos seus discípulos

Legar a memória















A mulher atravessa a pequena multidão, a alvura
do cabelo aviva o negro da roupa. A mulher oferece
um ramo de cravos ao secretário-geral do partido,
que acaba de entrar, humilde, no arraial. A banda,
pouco antes havia exumado O Baile da Dona Ester,
solta na noite A Internacional. A mulher regressa,
senta-se: os jornalistas interrogam-lhe o gesto
(por que motivo os jornalistas são tão rigorosos a
confirmar a evidência?). "O meu marido foi preso
duas vezes pela polícia política, tempos de fome e
repressão: é preciso legar a memória". Numa panela
enorme há feijoada; na outra, caldo-verde. Os camaradas
comem, cantam a terra sem amos.
O primeiro prémio da tômbola é uma máquina
de lavar: vejo-a a uma ponta do palco, onde o secretário-
geral, com a mesma humildade que chegou ao pinhal
iluminado, arremessa o fogo da palavra: descreve
o nosso rude tempo - acredita, convicto, na possibilidade
de inverter o curso das coisas. S. Pedro da Cova. Agosto.
Noite de Agosto de dois mil e cinco. A ouvir o secretário-
geral do partido há povo, gente pobre na sua maioria.
A antiga comunidade mineira (Trago a camisa roja/
de vinho que auga não bebo") vê a sua terra tornar-se
subúrbio de cidade de subúrbio. Cruel destino
histórico. Um amigo dá-me boleia até ao Porto, antes
do desfecho da festa. Também ele, pressinto, terá
evitado assistir à anacrónica alegria do vencedor do
electrodoméstico. Um verso, vem um verso em meu
auxílio, Não traio, por que insistes!
Às vezes, um verso,um só verso basta.


terça-feira, 11 de setembro de 2007

Memória artesanal















Por Setembro corre o aroma das maçãs. O caçador afaga o
vício dos cães. O escárnio das romãs acirra os frios do
Inverno. E eu, andarilho, num bosque de palavras remotas.
Por Setembro despovoam-se os milheirais, o mosto cabisbaixo
raptado pelas vespas. Da abóbora-menina um derradeiro
e escusado braço - dará flor, jamais fruto. Por Setembro amadurece
o marmelo e pássaro algum o cobiça: fruto humilde e ázimo
que a mulher transmuta em paciente doçura.

S. Pedro do Sul

Os dióspiros incendeiam a manhã
em S. Pedro do Sul, na aldeia do Paraíso.
Nem uma folha, só os frutos: agasalho de lume.

sábado, 8 de setembro de 2007

O homem na névoa lembra-se da mãe


O homem na névoa lembra-se da mãe. “Antigamente os pássaros não voavam”, diz. Dos campos lavrados, diante dos seus olhos, levantam-se pombas, em bando. Campos lavrados de fresco, há sementes ainda em busca do fértil coração da terra: as pombas e de mais aves conhecem bem esta falha, a correria imóvel de grãos indefesos. No mês de Maio (continua a mãe na lembrança), a névoa ilumina as sebes de camélia, as folhas da figueira. Ilumina a magnólia, errante na folhagem densa: a magnólia, a curtir o luto da morte temporã das suas flores.

Depressa o bando se dilui na delicada penumbra humedecida. O homem olha devagar, retém a paisagem. “Antigamente pensava: os pássaros não voam”.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Paixão

os homens pré-históricos
desconheciam o verbo amar.
na partilha da paixão
decepavam o primeiro m de mamute
e ofereciam um raminho de alecrim.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Das coisas triviais

as aves voam
eu escrevo: voar, ave, viagem.

as aves voam.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Nudez reclinada

viajei em todos os eléctricos, josé.
fiz o mesmo nos autocarros do
porto, esses que inçam a cidade
de manhã e a despovoam
ao fim do dia. e ela, josé, não veio
sentar-se ao meu colo. suicidou-se,
por seis meses, a nossa musa?
diz-me, josé: onde poderei achar a nudez
reclinada da mulher azul?
ela não não existe! - insiste o outro,
o outro que trago agachado em mim, josé,
josé diz ao outro, diz-lhe: a mulher azul
já não viaja de eléctrico,
comprou um automóvel.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

vidoeiros

nunca vi éguas selvagens

descerem dos teus seios para o pasto


o pior é galope do cavalo emparedado

na cabeça,

deste cavalo que anseia a fuga a fuga

sempre insatisfeito com a verdura

dos olhos.